sexta-feira, março 11, 2005

chove na rua

foto de Sílvia Antunes


Chove na rua. Chove intensamente como se o céu se tivesse cansado de se conter e resolvesse romper em pranto.
Chove com força esta chuva, este vento, este tempo.
Mas cá dentro...
Cá dentro tudo é tão diferente. Há calor, há sede, há ruídos de pouca gente.
Ouve-se o crepitar da lenha, o estalar da madeira decalcada pelos teus e meus passos. Ouve-se o gotejar na caleira, o passar das horas, o despejar do chá da chaleira.
Serenamente ensaiamos um beijo e depois outro e ainda outro.
Com o coração nos olhos seguimos as linhas que os nossos corpos destacam no escuro iluminado pelo fogo da lareira. As mãos estão quietas, contidas uma dentro da outra.
O abraço está próximo.
E lá fora chove, chove realmente.
Quando me pedes, despeço-me do vestido e peço abrigo ao teu abraço. Quando me sorris, demoro-me no deleite desse sorriso de chocolate quente. Quando me sussurras, procuro guardar o doce daquilo que me dizes, em papelinhos de algodão que guardo no coração.
Quando dentro de uma casa se perde a noção e a medida do tempo... quando se esquecem as palavras e se usam os olhos para longas e demoradas conversas....
Quando as pontas dos meus dedos se soltam do juízo e da razão e se aventuram no mar das tuas costas, na areia dos teus cabelos, na água dos teus olhos, nas covas que retêm o teu sal...e a minha pimenta...
Quando o teu calor passa para mim e se aloja na minha pele. Quando o teu odor se confunde com nuvens de papel.
Quando o relógio anuncia com badaladas sonoras os momentos suaves, culminantes dos prazeres passantes.
Enquanto tudo isso acontece... enquanto a lava arrefece...
Lá fora chove copiosamente.

Texto de Migui

http://www.fotopt.net/autor.asp?autor=5672



segunda-feira, fevereiro 28, 2005

arquitectura do desejo


foto de Sílvia Antunes

Como uma forma de encantamento mergulhei em lugares de desejo. Vagueámos por entre alamedas de árvores. Seguimos caminhos iniciáticos, como um nascer, ou um renascer que se anseia. Andámos por percursos de água e de luz. Nada nos fez recuar perante desafios, pois sabíamo-los recompensados. As atenções da descoberta, o gozo da partilha estiveram sempre presentes.
Os símbolos chegaram até nós como mensagens, códigos que tentámos desvendar. Nos teus olhos a limpidez da água que bebemos. Na minha boca a frescura do teu beijo.
A descida em espiral ao fundo do poço sugeriu-nos a passagem das trevas para a luz. Caminhámos por cima da água num aparente equilíbrio instável.
De novo, no jardim, encantaram-te as camélias que se aconchegaram no meu peito e vimo-nos personagens de um romance, de uma peça de teatro, ou de uma ópera naquele fantástico espaço cénico.
E tão fantástica como a luz, que coada das janelas se projecta em sombras no chão de mosaicos, tão fantástico é o desejo e o amor que se espaçou em mim. Fantástico também é o gosto desejar o desejo e o carinho que há em ti.

texto de Margarida Araújo

http://100sentidoconsentido.blogspot.com/

domingo, fevereiro 13, 2005

... afinal quem és tu...

"e afinal quem és tu, Sílvia desconhecida, o que te faz correr?"
 
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