© Sílvia Antunes
Após horas de espera, finalmente atravesso a porta de embarque.
Olho para trás para me certificar se os problemas que me atormentam diariamente ficam ali, do lado de lá da porta que acabei de passar.
E ficam.
Sorri para a hospedeira e lá vamos nós.
(…)
Ouve-se um apito.
No cais, um homem agita uma bandeira vermelha.
Última chamada para o comboio.
Todos sentados.
Ele agora agita a bandeira verde.
O Comboio começa a andar, e cá vamos nós para dentro do nosso imaginário.
Dou uma mirada nas pessoas que me rodeiam e noto que os olhos dos adultos brilham mais que os das crianças, os meus devem brilhar assim também…
Passamos por montes e vales de brincar, castelos de sonho, ao longe avisto o Grand Canion, e já se ouve a montanha russa a funcionar.
Ao passar o Mississipi, o grande barco ainda está parado, e vejo a cabana do Tom Sawyer, se não é ele é parecido, nem sabia que ele era uma personagem da Disney, parece mesmo, vês Di, é o Tom, ele olha para mim com um ar de “esta é doida”, sei lá quem é o Tom, eu digo, esquece, não é do teu tempo.
Impossível descrever tudo ao pormenor, posso apenas mencionar que passei pelo castelo da Cinderela, que andei no barco do Capitão Gancho e subi à arvore dos meninos perdidos, que voei com o Peter Pan, e me perdi no labirinto da Alice no pais das maravilhas, que bebi chá com o gato louco, que me parti a rir com o professor que encolheu os miúdos, que tremi quando um asteróide embateu na nossa cápsula espacial e se incendiou, que subi de avião, que nadei com o Nemo, que fui à gruta do dragão, que desci ao fundo do mar no nautilus, que me deslumbrei com as histórias do pais dos contos de fadas, que conheci a baleia que engoliu o Pinóquio, que apertei a mão ao pinto do chicken little, que o Pluto me puxou o cabelo, que sonhei com a Mary Poppins, que desci às minas do Indiana Jones, que delirei com a casa assombrada, que vi a lâmpada magica do Aladino, que passeei na América de inicio do século, que trauteei musicas de embalar, fiz uma viagem ao mundo do pirata das caraíbas, escondi-me dos índios e por momentos fui cowgirl, brinquei às televisões nos estúdios do disney channel, pela mão daquele boneco azul marado, o Stitch, e tantas, mas tantas outras coisas que precisava mais dois dias para enumerar..
(…)
Fazemos a última viagem de comboio e partimos em direcção ao aeroporto.
Passo a porta de (des)embarque pego nos problemas e nas malas e volto para casa.